sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O SILÊNCIO E SUA ELOQUÊNCIA OPRESSIVA - O MUNDO DO SILÊNCIO

Há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado. ( Sófocles )




Imagine-se sendo a única pessoa na face da terra, caminhando pelas ruas desoladas das cidades desertas e envolto pelo mais completo silêncio. Tais fantasias já foram cogitadas pelo cinema como por exemplo nos filmes Eu Sou a Lenda e Vanilla Sky. O fotógrafo francês Lucy e o alemão Simon pensaram nessa situação ao criar a série "Mundo do Silêncio", que apresenta uma coleção encantadora de vazios que se disseminam e tomam todos os espaços, inclusive lugares emblemáticos como a Times Square, Place de l'Opera, Wall Street, Place de la Concorde e Praça Tian'anmen. 










"Apenas o silêncio é grande, tudo o mais é debilidade." - Alfred de Vigny ,














O silêncio do mundo, como uma citação, de repente é dotado de uma eloquência opressiva e assustadora. Intrusões de algum ser humano e pequenas dimensões do silêncio são as  verdadeiras fagulhas do vazio em cada ambiente, porque a sua presença desconcertante perturba a calma majestosa das ruas e praças. As pessoas solitárias que vemos, como sugestão, em algum canto da foto, são os derradeiros humanos. Serão eles os últimos culpados ou vítimas do suposto desaparecimento da humanidade? 
















"ESSE SILÊNCIO TODO ME ATORDOA,  ATORDOADO EU PERMANEÇO ATENTO NA ARQUIBANCADA PRA A QUALQUER MOMENTO VER EMERGIR O MONSTRO DA LAGOA..."  ( Chico Buarque de Hollanda )




ASSISTA AO VÍDEO PRODUZIDO PELOS FOTÓGRAFOS





Mundo do Silêncio

 

Lucie & Simon, o mundo silencioso.
2009-2012.
EUA, China, França, Itália.
minuto 7'45 filme sobre o mundo do trabalho silencioso, de 2012.
música de Philip Glass e Daft Punk.
Direção e edição por Lucie & Simon.












É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel, mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz. 









Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não se veem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento: a luz da aurora. 

( Clarice Lispector )



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