quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Força Bruta ( Luto )




"Tanta erva rasteira, tanta planta daninha, tantos fungos que só brotam e crescem nos rincões úmidos, lodosos, lutulentos da psique!"




Luto a luta mais vã,
vandalismo sem precedência:
Um céu de nuvens pesadas...
O estranho, o estanho e suas violências.

Monstro de chumbo e pesar:
nas vestes, no olhar, nos véus do tempo.
Além de todo sofrer,
ainda mais este estorvo,
ainda mais este vínculo:
o abraço da força bruta,

a gruta do mal.
Luta sem trégua, frágua,
água do prantear.

Um céu de nuvens carregadas
no olhar, no andar, no sentir...

Tudo desaba em grosso vendaval,
val umbroso do espírito inconsolável.
A vida é sem lugar...
Tudo mais é a Esperança de luto:
dissoluto amor, absoluta dor.

Sabes o que é depositar a coroa,
funesta coroa - esta! - sobre o amor ceifado
e lavrar o vale da mente turva,
recurva de solidão?!

Sabes o que é andar pelos vales das sombras,
perdido nos rincões úmidos do abandono,
onde habitam o lodo e a hera da insanidade?
Sabes o que é doer de amor póstumo e saudade?!

A dor elástica se expande na alma -
braço de alcance eterno no encalço do espírito -
laço do cansaço,
habita o coração, infiltra-se nos ossos:
inverno escuro da saudade.
Idade do carvão.

Escuta este silêncio, este segundo de nada,
esta nota vazia que este acorde me traz,
entre o gesto da mão
que leva ao túmulo a coroa de um reinado
e deposita sobre o passado,
o soluço de um deus morto,
e os desvãos de um castelo sem rei.

Que vale a vida sem viver?!

Tânatos:
Dá-me o teu ombro, dá-me teu colo,
hoje quem morre sou eu...


01.12.2008


sábado, 4 de outubro de 2008

( des ) Construção






Não vê que sua sombra,
entulho emocional,
sobrepesa meus andaimes
e trava a rodilha dos pensamentos?




Como posso reconstruir?




Não percebe que o cimento do meu ciúme
embota o sangue
enrijece meu desejo e firma o indesejável?
Não percebe seus projetos em mim?
Não entende que a umidade da masseira
tem a temperatura da minha lágrima gelada,
que sua liga, infiltrada nos meus olhos, 
deita saudades remotas sobre minh'alma cansada?




Como posso reconstruir?




Não sente que os tijolos da insegurança
circundam minha vida e erigem os cômodos
do meu incômodo desatino?
Não compreende que o espectro do que fui
traz de volta a alegria dissipada
em andrajos de uma cortina imóvel,
na mobília dos meus cantos umbrosos?
Não concebe que na sala-de-mal-estar
choro cada quadro latente,
onde fantasmas
celebram minhas dores
desde a parede do ontem
até o tapete de agora?




Não vê, não percebe, não entende, não sente, não compreende?

Em mim toda construção é ruína!!!








Torres Matrice

04/10/2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

sísifo






Os pés não reconhecem o chão...
Um caminhar anestésico
sensorial 
passo sem pele


A impossibilidade dos encontros:
lassidão.




Os pés adiante
mas na esquina o ontem,
fábrica de engenho traiçoeiro,
engendra a mágoa:
sisifismo


É na esquina que se esbarra
é na curva que o tombo abisma
e rebobina a estrada.


A mão estranha o vão:
- Cadê as digitais?
Será que há prova, um grito?


Vai ver o verbo reverbera
na vida do substantivo Ser:
doer doer doer


Nada se conjuga
tudo é impessoal agora
pretérito perfeito,
presente mais que imperfeito
de grego:
anaisthésia
tudo se nega, tudo se dista:
vista sem olhos, paisagem cega.


Passos sem pés...
pegadas demais!


O abraço é oco
o beijo é mouco
o ouvido esquece o som
a fúria é do corpo
o tédio é do morto
a vida é mesmo vã.


A pele perdeu seu sentido...
a epiderme dorme
Depois da queda o coice
depois da dor a foice
foi-se...


A paralisia do amor caminha permanente.






Nada me toca.





09/10/2008

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