sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

JOHN HEARTFIELD UM FOTÓGRAFO À FRENTE DE SEU TEMPO - O HUMOR CORROSIVO E A CRÍTICA MORDAZ DE UM TEMPO VORAZ

Pela primeira vez no Brasil, 50 fotomontagens da coleção do Instituto Valenciano de Arte Moderna produzidas pelo fotógrafo alemão JOHN HEARTFIELD para a revista  AIZ de Berlim, publicadas entre 1930 e 1938.

A exposição das fotomontagens de Heartfield estará em São Paulo  no museu Lasar Segall entre 24 de novembro de 2012 a 24 de fevereiro de 2013.






John Heartfield (1891-1968) foi um pioneiro na manipulação de fotos e na história do design. Num tempo muito distante do Photoshop, este genial fotógrafo já criava suas fotomontagens, habilidosamente, demonstrando estar muito à frente de seu tempo.
Ele estudou desenho, cinema e fotografia em Munique.



                                           John Heartfield


 Nascido na Alemanha, seu nome de registro era Helmut Herzfeld, porém o artista mudou-o para John Heartifield. Ele escolheu se chamar Heartfield, em 1916, para criticar o nacionalismo irracional na Alemanha e o sentimento antibritânico que prevaleceu em seu país durante a Primeira Guerra Mundial.





Heartfield foi um dos primeiros fotógrafos a usar a fotomontagem, manipulando fotografias para satirizar a estupidez e a brutalidade do regime nazista. Isto foi há décadas, antes do Photoshop, portanto todos os trabalhos foram feitos à mão, o que torna sua arte ainda mais impressionante. 





Seu trabalho mais conhecido ( acima ) chama-se  "Hurrah! A manteiga está desaparecida!", fotomontagem que mostra uma família tentando comer itens metálicos diversos, denunciando, assim, através da fotografia, como a guerra produz desespero, fome e escassez no mundo. 

Durante a guerra a escassez de alimento foi devastadora. Hurrah, die Butter ist Alle! ( em português: Viva, a manteiga está desaparecida), foi publicado na primeira página da revista AIZ em 1935. Trata-se de uma paródia da estética clichê da propaganda comercial: a fotomontagem mostra uma família em uma mesa de cozinha, onde há um retrato de Hitler e o papel de parede é enfeitado com suásticas. A família - mãe, pai, mulher de idade, jovem, bebê, e cão - está tentando comer pedaços de metal, tais como as correntes, guidão de bicicleta e rifles. Abaixo, na fotografia, aparece o título escrito em letras grandes, além de uma citação de Hermann Göring sobre a escassez de alimentos. 

Traduzida, a citação diz:

 " Ferro sempre fez uma nação; manteiga e banha forte só fizeram as pessoas mais gordas" .




Sua arte se destaca como um exemplo de inovação, muito antes de se falar em Photoshop, e continua a inspirar, como na época, muitas pessoas a resistirem à opressão e à violência de regimes ditatoriais e racistas.






Em setembro de 1914, em meio ao tumulto da Primeira Guerra Mundial, Herzfeld foi convocado para o exército alemão onde foi obrigado a permanecer até 1916. Foi nesse último ano que Helmut mudou seu nome para John Heartfield como uma forma não só de protesto contra a Guerra Mundial, mas também contra o slogan nacionalista alemão que dizia: "Gott Strafe Inglaterra" (Que Deus Puna a Inglaterra). Ele também fingiu loucura para evitar o retorno ao serviço militar.






Suas fotomontagens satirizando Adolf Hitler e os nazistas frequentemente subvertia símbolos nazistas como a suástica, a fim de minar as propagandas nazistas.











John Heartfield usou sua arte para protestar contra o controle governamental violento e ganancioso do partido nazista e do Terceiro Reich de Hitler. Ele produziu com suas fotografias uma abordagem satírica, condenando aqueles que eram anti-semitas e criticando os ricos industriais que apoiaram o exército alemão. Ele testemunhou e denunciou, através de sua arte, um país cheio de pessoas famintas e desoladas no meio do caos durante a Segunda Guerra Mundial.





Suas obras foram proibidas em seu país de origem, ele se mudou para Praga, na Tchecoslováquia, onde continuou seu trabalho de fotomontagem  para a  AIZ.









Em 1933, após os nacional-socialistas chegarem ao poder na Alemanha, Heartfield mudou-se para a Tchecoslováquia, onde continuou seu trabalho para a AIZ (que foi publicado no exílio) e em 1938, temendo uma invasão alemã em seu país anfitrião, ele partiu para Inglaterra, vivendo em Hampstead. Ele se estabeleceu na Alemanha Oriental e Berlim após a Segunda Guerra Mundial, em 1954, e trabalhou diretamente com diretores de teatro como Benno Besson e Wolfgang Langhoff no Berliner Ensemble e Teatro Deutsches.







Após conversas e encontros com Bertolt Brecht, que desencadearam influências sobre sua arte, Heartfield desenvolveu a arte da fotomontagem como uma forma de representação política e artística. Ele trabalhou em duas publicações comunistas: o diário Die Rote Fahne e o semanário Arbeiter-Illustrierte-Zeitung (AIZ) onde foram publicadas as obras pelas quais Heartfield é mais lembrado.













             John Heartfield,  Árvore de Natal em solo alemão de 1934.









Em 1918, Heartfield começou a atuar na cena da arte de Vanguarda Europeia, chamada Dada, em Berlim, e engajou no Partido Comunista da Alemanha. Ele foi demitido do serviço, na empresa de filme Reichswehr, por conta de seu apoio à greve que se seguiu ao assassinato de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo. Com George Grosz, fundou Die Pleite , uma revista satírica.




























DADA ou Dadaísmo era um movimento artístico anti-guerra e se apresentava como uma forma de protesto ao estado bárbaro da Alemanha e da guerra como um todo 

Heartfield usou o seu trabalho de colagem como um meio político, incorporando as imagens dos jornais políticos do dia. Ele editou "Der DADA" e organizou a "Primeira Feira DADA Internacional de Berlim", em 1920.

Membros do movimento DADA cortavam imagens e textos de jornais e revistas, depois alinhavavam ou combinavam os mesmos,  de forma aleatoria, para criar uma nova forma artística em oposição ao conceito de arte que se tinha até então. 





Heartfield desenvolveu fotomontagens como uma forma de representação política e artística que faziam severas críticas ao sistema político e econômico.






































































































Após a Segunda Guerra Mundial o poderio alemão chegou ao fim e as tensões políticas foram arrefecendo na Alemanha no final dos anos de 1940, então, finalmente, Heartfield foi capaz de regressar ao seu país de origem. Tornou-se professor e recebeu muitos prêmios por seu trabalho. Continuou com seu trabalho até que problemas de saúde abateu-o e ele, então, faleceu em 1968 com a idade de 77 anos.



Capa criada por Heartfield de encomenda da revista semanal AIZ.




                         Lênin na visão de Heartfield


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