sábado, 9 de junho de 2012

Meu Ensaio Fotográfico Sobre a Estatuária Funerária e Sua Iconografia.


Thanatos, Tânatos : a morte como o princípio de tudo. 


Queridos amigos, fui ao Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, e fotografei diversas esculturas a fim de criar, sob a subjetividade do meu olhar, uma série de fotografias que revelassem poeticamente minha paixão por estas outras artes: a escultura e a fotografia. Fiz uma intervenção sobre as imagens registradas por mim e associei-as ao texto da filósofa  Viviane Mosé com o intuito de sublinhar meu trabalho. Espero que gostem! Fiz com carinho e amor.


Torres Matrice





Tudo indica que a consciência sobre a morte foi a primeira manifestação da consciência humana. Quando teve certeza da morte, o homem também se deparou com a vida, em seu processo de renovação que traz sempre a exigência da morte: vida que nunca deixa de criar, mas sempre transforma tudo o que gera.



A percepção da morte e da vida como um ponto de vista, fez nascer o indivíduo no humano, o que o tornou distinto do conjunto da espécie. O indivíduo nasce da consciência de si. O homem é o ser que, a partir de si, avalia.







Foi pouco antes da extinção do homem de neanderthal que o sepultamento passou a ser sistematicamente praticado.: na mesma época , de 100 mil anos para cá , o Homo Sapiens passou a ter como hábito enterrar e cultuar seus mortos..




Isso significa que a morte já os ocupava, não somente como luta imediata pela sobrevivência, mas como projeção do seu próprio destino, como preocupação, tomada de consciência da mesma.




O que realmente nasceu, há cerca de 100 mil anos, foi uma diferenciação do cadáver humano em relação a outros objetos. A consciência da morte nos impulsiona em direção à vida; a morte nos impõe a vida como valor.




A consciência da morte, a consciência de si, e a construção de mecanismos que buscam vencer a morte, tais como mitos, ferramentas, religião, ciência, ou que estimulam a vida, como a arte, vão marcar o processo de humanização deste animal incessante: o homem. 




É possível dizer que o pensamento consciente tenha se manifestado graças à incorporação e consciência dessa restrição insuportável: a morte. Ela é o grande NÃO que temos que aceitar e engolir se queremos continuar vivos.





Não se trata mais de instinto, mas sim da tomada de consciência que possibilitou a aurora do pensamento humano. É uma espécie de revolta contra a morte. Pensar nos possibilita a vida, a sobrevivência e a continuação da espécie.









O homem é o único animal que sabe que vai morrer, o único que tem a morte presente durante toda a  sua vida, o único a ter RITUAL FUNERÁRIO. O Homo Sapiens é o animal que sabe, e este saber se manifesta na consciência da provisoriedade da vida ; o que nos constitui como espécie é, antes de tudo, a constatação da morte como o eterno LIMITE. 







A incorporação dessa primeira consciência de finitude foi, possivelmente, o limite capaz de  fazer nascer o pensamento. Pensar é um gesto que acontece no vazio cavado pela incorporação da morte. 



Ao mesmo tempo, ao ter consciência do limitado, o homem ganha também a percepção do ilimitado, do grandioso, do sublime. Pensar é afirmar ou negar alguma coisa, é estabelecer um limite para a infinidade e a intensidade exuberante de coisas que nos cercam e nos constituem. Por isso, o pensamento está intimamente ligado à interpretação, à definição de uma perspectiva, de um ponto de vista. Pensar é afirmar uma direção, um sentido, em vez de outros. 




Se o homem é o único animal que sabe que vai morrer , ele também é o único que incessantemente cria, interfere, modifica, produz.Ele é um ser que cria valores e a consciência da morte instaura o primeiro valor: a VIDA. 





O cuidado com os mortos, não profanar cadáveres, não permitir que sejam comidos por outros animais é uma das primeiras e mais rigorosas leis de que temos notícia em nossa cultura ocidental. 




Não permitir que o corpo humano sirva de alimento aos outros animais é dar um outro sentido ao corpo, um valor. Isto significa suspender a determinação natural das cadeias alimentares pela nossa ação advinda da tomada de consciência: assim nasce o homem, o indivíduo humano.







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