Mostro os ossos do ofício
exponho o vício do ofídio:
a mucosa negra do rancor.
Minha língua protrátil, bífida
destila o veneno da inveja
- que alimento!
sobre o que fui e tive.
Cobra-rei, Cobra-real
cobra de mim mesmo
a dor que me causei.
O amar botou em mim
a escama da dispersão,
o orifício da maldade
e um baú de ossadas
enterrado na memória.
O amor em sua verve rastejante
serpenteia a procissão dos amantes!
E por mais que nos dê asas
é no chão que se morre.
Prece ao sustento da dor:
Ladainha do amor morto...
No costume do corpo ressentido
a falta do amado é a goma do desalento.
A gosma da lesma ainda é a mesma
no rastejar das coisas infindas...
Tudo dói e deixa rastro, deixa lastro
luz fria da tarde na trilha da estrada morta...
Sinais da serpente na areia do caminho:
desenhos dos meu dias de agora.
Mostro o ofício dos ossos na tortura do sacrifício:
meu espírito ainda escama na espinha do sofrimento.
13/01/2009