Louvado sejas Deus meu Senhor,
porque o meu
coração está cortado à lâmina,
mas sorrio
no espelho ao que,
à revelia de
tudo, se promete.
Porque sou
desgraçado
como um
homem tangido para a forca,
mas me
lembro de uma noite na roça,
o luar nos
legumes e um grilo,
minha sombra
na parede.
Louvado
sejas, porque eu quero pecar
contra o
afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as
tumbas com o arranhão das unhas,
mas vejo Tua
cabeça pendida
e escuto o galo
cantar
três vezes
em meu socorro.
Louvado
sejas porque a vida é horrível,
porque mais
é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
- velho ao
fim da guerra como uma cabra -
mas limpo os
olhos e o muco do meu nariz,
por um
canteiro de grama.
Louvado sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.
Uma vez,
quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta
estava branca de luar
e acreditei
sem nenhum sofrimento.
Louvado
sejas!
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Peter Franco - poema de Adélia Prado, Bendito.
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