O Pavão
Eu
considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo
imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não
existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas
d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de
plumas.
Eu
considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com
o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério
é a simplicidade.
Considerei,
por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e
esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz
de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rubem Braga - Rio,
novembro, 1958
Texto
extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de
Janeiro, 1960, pág. 149.
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