Existem temáticas tão fortes, que para não serem rejeitadas
pelo público, precisam estar vestidas de uma aparência mais suave, mais
palatável. É o caso desta interessante versão de um best-seller de
Waris Dirie, que ao passar para o cinema pelas mãos de uma americana radicada
na Alemanha, Sherry Horman, precisou de uma embalagem sofisticada e romântica.
Algumas vezes já ouvimos falar da absurda e revoltante
prática de certas nações, no caso, a Somália, que quando uma criança feminina
tem três anos de idade, é levada para encontrar uma mulher que lhe corta,
ritualisticamente, o clitóris e costura a vagina, de forma que ela só poderá
ter relações com o marido, que terá que usar uma faca e nunca poderá ter prazer
sexual.
Mas pela primeira vez, ao menos no cinema comercial, se
conta esta história a partir da vida real de uma negra alta e bonita. Waris,
que é vivida por uma modelo, belíssima, chamada Liya, que vem da Etiópia, já
esteve em O Senhor
da Guerra e O Bom Pastor e é modelo de sucesso. Aliás, uma escolha perfeita
para o papel. Além de tudo, ela é boa atriz, natural, espontânea e faz
tudo certo. Acontece que Waris conseguiu fugir de casa - e de um casamento
arranjado com um homem mais velho - e ir trabalhar com parentes distantes, como
serva de uma família que vivia na Inglaterra, como diplomatas.
Quando são obrigados a voltar ao país, ela foge novamente e
vai vivendo nas ruas até conseguir fazer amizade com uma inglesa vendedora de
loja de sapatos, feita por Sally Hawkins, que faz tudo muito parecido com o
filme anterior dela, Simplesmente Feliz.
Aos poucos vão se revelando seus segredos e ela consegue
impressionar um famoso e excêntrico fotógrafo (Spall, outro da turma de Mike
Leigh), que a leva para uma carreira de modelo, com as dificuldades com passaportes,
vistos e tudo o mais, levadas como comédia.
A história de sua castração vai ficar para o final, porque
se não tivesse esse jeito de conto de fadas seria quase insuportável. Mas é uma
denúncia importante de existir e acontecer, tão estúpida que é difícil de
acreditar. Por isso mesmo que este Flor do Deserto é importante e deve ser
apoiado.
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