terça-feira, 10 de setembro de 2013

BENDITO - POEMA DE ADÉLIA PRADO








Louvado sejas Deus meu Senhor,
porque o meu coração está cortado à lâmina,




mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
Porque sou desgraçado

como um homem tangido para a forca,








mas me lembro de uma noite na roça,
o luar nos legumes e um grilo,






minha sombra na parede.






Louvado sejas, porque eu quero pecar
contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
violar as tumbas com o arranhão das unhas,






mas vejo Tua cabeça pendida
e escuto o galo cantar
três vezes em meu socorro.








Louvado sejas porque a vida é horrível,
porque mais é o tempo que eu passo recolhendo despojos,
- velho ao fim da guerra como uma cabra -
mas limpo os olhos e o muco do meu nariz,
por um canteiro de grama.






Louvado sejas porque eu quero morrer,
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.








Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
a horta estava branca de luar
e acreditei sem nenhum sofrimento.


Louvado sejas!




ASSISTA AO VÍDEO ABAIXO E CONFIRA O POEMA INTERPRETADO  POR PETER FRANCO


Peter Franco  -  poema de Adélia Prado, Bendito.


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