René Magritte (1898-1967) tinha apenas 13 anos quando a sua mãe cometeu um ato terrível. Depois de várias tentativas de suicídio, ela atirou-se de uma ponte, afogando-se no Rio Sambre. Diz-se que este acontecimento viria a marcar para o resto da vida o pintor belga, levando-o a pintar quadros como Les Amants (1928), em que dois namorados se beijam encapuçados - da mesma forma que a sua mãe tinha sido encontrada, com o vestido cobrindo-lhe a cabeça.
Apesar da tragédia, a verdade é que Magritte se tornou um dos pintores mais famosos do século XX e um marco incontestável da arte surrealista.
Para muitos apreciadores da arte a obra de René Magritte é perturbadora, misteriosa, intrigante. Todos esses adjetivos são cabíveis à obra surrealista desse renomado pintor. O quadro “Os Amantes”, feito no ano de 1928 nos remete, de fato, a alguns desses adjetivos.
A origem do casal retratado em "Os Amantes" vem, provavelmente, da imaginação
de Magritte, inspirado por um personagem do gibi francês chamado Fantomas. Como a maioria dos pintores
surrealistas, Magritte era fascinado pelo Fantomas, uma espécie de
vilão da literatura francesa. Esse personagem ficou tão conhecido que foi
adaptado para o cinema, onde aparecia sempre com o rosto coberto por uma meia
ou por um pano.
Outra possível causa para as faces ocultas do casal está na morte da mãe do pintor, que cometeu suicídio e foi encontrada no Rio Sambre, no norte da França. A cabeça da mulher estava enrolada no vestido que ela usava, o que pode ter inspirado Magritte na execução do quadro.
Gibi do Fantomas, personagem que inspirou Rene Magritte na execução da obra.
Aparentemente,
trata-se de uma representação de um casal que está viajando ou a passeio, já que o
plano de fundo é formado por montanhas, e não por prédios ou quaisquer outros elementos comuns em
temas urbanos.
Trabalhho fotográfico fazendo alusão à obra de Magritte
Sente-se uma espécie de estranhamento ou inquietação ao
observar a obra. Esse estranhamento não é causado pelo tecido que cobre os rostos
em si, mas sim pela forma como eles, os amantes, estão posicionados. Eles embarram as faces e se enrolam até o pescoço, e é como se nós,
espectadores, pudéssemos sentir um pouco do sufocamento do casal. Assim, do que a princípio seria uma simples fotografia de
namorados, Magritte fez uma obra que consegue evocar uma imagem mental inquietante.
Os Amantes - René Magritte
Uma obra se torna imortal quando ela consegue representar seu tempo, quando eterniza uma situação que, embora cristalizada, poderá ser relida conforme os novos tempos, possibilitando, assim, novas
interpretações que nos leve a refletir.
O quadro, Os Amantes, de René Magritte, pode ser entendido, também, à luz
dos tempos de hoje, como a expressão da falta ou da dificuldade de comunicação real
na ilusão da própria comunicação, da conexão da modernidade líquida, tecnológica,
acelerada, contrapondo-se às relações das velhas sociedades ditas lentas, mas
que eram baseadas, dentro do possível, numa responsabilidade mútua.
Apesar
do quadro mostrar um casal se beijando, o beijo, a relação é
interrompida (até mesmo evitada, pode-se dizer) pelos sacos na cabeça de cada
amante. São amantes líquidos. Amantes que não querem o compromisso, a responsabilidade de conhecer
o outro em sua profundidade, não querem o obstáculo da verdade e da vida do outro para obstruir suas
vidas tão cheias de movimentos acelerados e "modernos". Não há espaço, nem tempo para O ENAMORAR-SE.
Em nossa sociedade dita pós-moderna, todos os entraves que
possam, de alguma forma, interromper a maneira individual, egoísta e
quantitativa do gozar hedonista, precisam ser evitados.
A insegurança em não
entender a complexidade do outro e a incapacidade de, simplesmente, não destruir
sua alteridade, descartando-a como refugo da sociabilidade, favorece às formas
superficiais de relacionamento, onde o termo conexão limita-se aos “face-books”
da vida, afinal, nada mais fácil e livre de qualquer culpa e responsabilidade
do que se desconectar – quebrar um laço que já é por si frágil.
Montagem criada por Torres Matrice a partir de imagens que homenageiam e brincam , numa intertextualidade, com a obra de Magritte.
Música CARA de Arnaldo Antunes extraída do cd A CURVA DA CINTURA de Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra.
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A Traição das Imagens
Apropriando-se do universo surrealista do pintor René Magritte, o diretor Philippe cria um curta metragem que capta a atmosfera misteriosa e oníria do renomado pintor. Para tanto ele faz referências à várias pinturas famosas do artista. Veja se você consegue localizar as referências que surgem ao longo do curta.
Em torno do universo surreal de René Magrite, o colecionador
vive em um quarto de hotel tomado por arte e fotos. Um realismo mágico que
busca transformar sua imaginação no real, ou o real em sua imaginação?
Philippe diretor e roteirista do curta A Traição das Imagens e Vanessa produtora e roteirista
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