CAMIRANGA
Camiranga é urubu. Um de pena marrom e cabeça
vermelha, o que se arrisca. Sem a sua aprovação, nem larva come a carne.
Injustamente malvisto e mal falado, como todo urubu, é mestre na arte de
planar. Procura entre os cheiros que sobem da terra o que lhe cabe. Quando
encontra, cumpre com majestade sua função na Terra, transformando carne podre
em energia e vitalidade para voar, voar, voar...
CD Camiranga traz um repertório de canções inéditas propondo
a fusão entre o contemporâneo e o tradicional, através de uma sonoridade atual
e extremamente brasileira. As composições trazem em sua essência palavras
simples, que combinadas se tornam repletas de poesia e sofisticação,
desenrolando-se em melodias sutis, traçadas sobre harmonias modernas e
rebuscadas, sugerindo ritmos rituais tradicionais. As vozes dos mineiros,
Fernanda de Paula e Léo Nascimento, idealizadores do projeto, chamam atenção
pela força e o timbre do uníssono, embora se desenvolvam em contrapontos e
vocalizes elaborados, com influências que vão do Barroco ao Impressionismo. O
violão de Léo Nascimento conduz a harmonia, deixando clara a influência herdada
de Minas Gerais, como João Bosco e Toninho Horta. Tambores tradicionais, como
Jeremias (Candombe de Minas Gerais), Ilu (Nação Ijexá) e o trio de Batás (Culto
de Xangô em Cuba), confeccionados e utilizados pelo percussionista Rômulo
Albuquerque, demonstram uma essência negra calcada em manifestações africanas,
cubanas e brasileiras.
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