terça-feira, 20 de abril de 2010

Na Carne e Nos Ossos






 Meu corpo adivinha 
sensações já vividas
experimenta
doses discretas
profundas, latentes 
velozes...

A carne tem um fraco
pela dor
pela sarjeta
pela orgia
pela noite dardejante...

Un Coup de Dés

( quem negará? )


Qual infante sou levado...

Uma saudade cravada
em mim, nos ossos, na carne...
Saudades do que não vivi
mas adivinhei, vislumbrei...
Saudade dos becos noturnos
tramas dramas
abismos da cidade...

A cidade é mesmo um vão!

vão voem vejam
a cidade oculta dentro da cidade
a cidade sem fim...

Onde será que isso começa?!

Quero as mentiras etílicas
os olhares tóxicos, os desejos
sob a penumbra azul das canções 

Quero os bares noturnos da cidade!

Quero o caótico trânsito humano
nas madrugadas da cidade...

Saudade 
da solidão das multidões noturnas
das noites diluídas
em gelo e gim

O esgotamento das gandaias
raiadas nos meus olhos
vermelhos de sono e sonhos...

A cidade pelo avesso:
espelho da nossa cara
Luzes azuis lazúlis frias...
Quero tudo outra vez:
Som e fúria!

Antes que a madrugada-sino
sina
dobre a esquina
(blues sem piedade)
da juventude que me resta
f(r)esta...


Torres Matrice

11/04/96

Um comentário:

Tarin Kirmer disse...

Este poema me despe e me alça qual flutuasse sobre o cais dos meus sonhos, dos meus martirizados delírios íntimos, que escondo através de sorrisos. Como mendigo de mim mesmo em traje de gala tendo à mão uma taça do melhor champagne! Ah! Paris, Paris dos tempos que não vivi, das madrugadas frias e também das desertas ruas do bairro do Recife Antigo, “porto” imaginário da boemia de BH. Admissão do nosso voluntariado na arte errar mundanamente. Valeu Poeta...foi em cheio!

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