quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A história de Lindonéia - crônica melancólica da solidão anônima







A Lindonéia de nara

(…) Nara Leão, cujas conversas conosco revelavam sua total independência em relação aos preconceitos anti-Tropicália exibidos por seus ex-companheiros de bossa-protesto e pela plateia de "Pra Ver a Banda Passar" (programa que ela comandava ao lado de Chico Buarque na TV Record), encomendou-nos, a mim e a Gil, uma música que tivesse como tema ou inspiração um quadro do pintor Rubens Gerchman chamado Lindonéia, o qual representava, em traços distorcidos com dolorosa pureza, o que parecia ser a ampliação de um retrato três por quatro de uma moça pobre que  dizia o texto título fora dada por perdida, emoldurada, à maneira kitsch dos retratos de sala de visitas suburbanas, por vidro espelhado com decoração floral. Gil fez a música um bolero entrecortado de iê‑iê‑iê ‑ e eu fiz a letra da canção, que manteve o nome “Lindonéia” e a história da suburbana desaparecida. O quadro de Gerchman, por ser uma espécie de crônica melancólica da solidão anônima feita em tom pop e metalingüístico, tinha parentesco direto com o tropicalismo musical, e a canção, nós supúnhamos, realimentaria sua carga poética.

Extraído do livro "Verdade Tropical" de Caetano Veloso


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