terça-feira, 1 de julho de 2008

Espessura Vítrea







Que espessura vítrea
abafa os sons da vida
e me separa dos demais?


Que distanciamento
estranhamento feroz
na voz que emito e ouço...


Que parede invisível
separa a existência
da própria existência?


Doente do pensamento
não toco a mim mesmo
o mundo desfocado
deslocado mundo sem fim


Olho o mundo e o olho do mundo me olha
e tudo me parece vago
lago sem Narciso
água sem espelho




Caminhada sem caminho
meu calcanhar de Aquiles
passos que não tocam
não levam não trazem
não passam




Atrabile, bile negra - humor imaginário?




Serei o inventor melancólico
nesta redoma acústica do vazio?
Personagem de Dostoievsky
na primazia do atro ato
incapaz de tocar o mundo?


Eu vazio de mim mesmo
desde quando?
Ando como quem não chega
como quem não sai
Quando foi que inventei
este andar térreo
rés-do-chão?


Há um imenso vidro
dividindo a vida
assisto distante
o mundo sensível
onde um dia estive
sonhando o que perdi.




Sofrer é uma morada sem flores!





30.08.2008

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